Travessias e travessuras na África (Travessia de Goreé em Dakar)

África do Sul, Senegal, Gâmbia e Suazilândia
 



Table Mountain Capetown

Já fazia um bom tempo que eu esperava uma oportunidade de colocar os meus pés no continente africano.
Há algum tempo um amigo me falou que havia um voo entre o Brasil e as Ilhas Cabo Verde. Nós ficamos muito tempo acalentando a possibilidade de visitar o pequeno país de Cabo Verde. Num determinado momento eu vislumbrei a possibilidade de ir em Dakar já que de Cabo Verde até lá parecia muito perto. E de fato é. Então acabamos descobrindo que havia uma travessia de natação na cidade de Dakar no mês de setembro. Por duas vezes pensamos em ir, mas por diversos motivos não dava certo.
Dessa vez decidimos ir, mas não conseguimos comprar a passagem por Cabo Verde. A Transportes Aéreos Cabo Verde, que voa para lá, tem poucas opções de voo e há uma enorme dificuldade para comprar as passagens já que eles não vendem pela internet. A solução que acabou dando certo foi voar pela South African. Só que eles não voam direto para Dakar, então tivemos que ir a Joanesburgo e de lá voar para Dakar.
Já que iríamos fazer isso, porque não aproveitar e conhecer a Cidade do Cabo na África do Sul? Pareceu ser, e foi mesmo, uma boa idéia. A seguir eu vou fazer uma descrição dia-a-dia da viagem com seus pontos altos e baixos.
 
A viagem e o primeiro dia
Saímos de Florianópolis no final da manhã. O nosso voo para Joanesburgo saíu as 18h. Depois de um voo de 12 horas chegamos em Joanesburgo as 7:25h. Há uma diferença de fuso horário de 5 horas. A fila na imigração era enorme, pouquíssimas pessoas atendendo, mas entramos sem maiores problemas. Depois de alguma dificuldade encontramos o portão e embarcamos para Cidade do Cabo também pela South African, agora num voo menos superlotado e mais agradável. Chegamos na Cidade do Cabo as 13h. Já com uma hora de atraso. Daí ao tentar localizar as nossas bagagens percebemos que duas malas do nosso grupo não haviam chegado. Foi mais uma longa batalha e mais umas duas horas de chá de aeroporto. Enfim, sem as malas fomos para a casa na qual iríamos ficar por três dias em Water Kant uma região localizada à beira mar. Excelente casa com três quartos e muito bem equipada com todos os confortos (não tinha ar condicionado, mas não estava quente, então não foi um problema). Nós largamos as bagagens e saímos imediatamente para fazer o nosso primeiro passeio pela cidade. Fomos ao centro da cidade a pé mesmo para tentar trocar uns dólares por rands (a moeda sul africana). Depois conseguimos um taxi-van que nos levou todos os seis até a estação do teleférico que leva até a Table Mountain, uma montanha em forma de mesa que domina a cidade. Segundo eles é uma das oito maiores atrações do mundo moderno. Realmente é muito emocionante a subida e a vista de lá de cima é linda. Vale a pena!



Vista da Cidade do Cabo a partir da Table Mountain
 
Quando descemos passamos em um moderno supermercado bem perto da nossa casa e fizemos um rancho para o jantar e para o café da manhã. Isso deixou a viagem mais barata e divertida. No primeiro dia eu fiz uma das minhas especialidades. Massa com atum. Não ficou boa, mas todos estavam com muita fome e ninguém reclamou. Os apreciadores de vinho deliciaram-se com o excelente vinho sul africano. Cansados e maltratados pela viagem da noite toda dormimos muito bem.
 
Segundo dia
Levantamos cedo e estávamos terminando o café quando chegou um emissário da South African trazendo a mala que havia sido extraviada. Foi ótimo e melhorou muito o astral da Neusa que tinha ficado privada das suas roupas e pertences.
Logo chegou também o motorista e a van que havia sido contratada para o passeio daquele dia. O destino era o Cabo da Boa Esperança que é o ponto mais ao sul da África. Por muito tempo significou um desafio na vida dos navegadores marítimos. Guardadas as devidas proporções era um desafio como chegar a Marte nos dias de hoje. Também foi conhecido como cabo das Tormentas tão fortes eram as tempestades ali. Foi descoberto em 1488 pelo navegador português Bartolomeu Dias. Foi a descoberta do caminho para as índias.
Antes de chegar ao cabo, passamos em uma pinguineira ande vivem pinguins africanos muito dóceis. Estavam por lá livremente tomando sol e cuidando dos seus filhotes.
Na volta ainda passamos pela orla da cidade do Cabo e pudemos ver as piscinas públicas com água do mar.
Á noite ainda tive disposição para ir dar uma corrida no Water Front, uma área com diversos equipamentos de lazer, compras e estadia localizado a beira mar ali nem Water Kant.
Com o peixe e os legumes que compramos de tarde fizemos um belo jantar.
 
Terceiro dia
Nós havíamos programado para este dia o mergulho com os grandes tubarões brancos. Eles ficaram de nos buscar as 3 horas da manhã, o que para nós que estávamos com uma diferença de 5 horas de fuso era muito difícil. Mas lá fomos nós, de van, mais uma vez, agora para uma viagem de 2 horas. Fomos com a empresa SharkDive. Eles cumpriram tudo o que prometeram.  Um café da manhã bem rico assim que chegamos lá. Depois embarcamos e fomos ao local aonde aparecem os grandes tubarões brancos. Colocamos as nossas roupas de neoprene e entramos, divididos em dois grupos, na água gelada a 13 graus, em uma gaiola de grades de aço. Os tripulantes jogam no mar constantemente um caldo de agua com restos de peixe. Logo apareceram uns três tubarões enormes que ficaram por ali atraídos pelo cheiro de peixe. Quando um deles se aproxima do barco, um tripulante atira uma isca amarrada a uma corda e vem puxando até bem próximo a jaula. Os tubarões perseguem a isca até esbarrarem na gaiola. A adrenalina é muito alta! Depois do mergulho fomos levados até a sede da operadora aonde serviram um caldo quente com pães. Depois nos levaram de volta para nossa casa.



Mergulho com os grandes tubarões brancos.
 
Como ainda era cedo, fomos passear e visitar as lojas e o shopping center do Water Front.



Vista da Table Mountain a partir do Water Front
 
 
Quarto dia
Logo cedo saímos para o aeroporto pois este era o dia em que iríamos para Joanesburgo e de lá para Dakar. Aproveitamos que tínhamos quatro horas em Joanesburgo para fazer um tour pela cidade. Contratamos uma van no aeroporto mesmo com um motorista que nos levou para um rápido giro com direito a subir no prédio mais alto da África. Deu para ter uma boa idéia da cidade. Não gostei muito do que ví. Me pareceu ser uma cidade ruim para visitar e pior ainda para viver.
Fomos outra vez para o enorme aeroporto de Joanesburgo. Tem um dos maiores freeshops que conheço, mas os preços não eram bons. Outra vez foi aquela dificuldade para passar pela imigração. Funcionários sempre mal-humorados e longas filas. Embarcamos em um voo da South African com destino à Whashington com escala em Dakar. Como o voo iria para os EUA os procedimentos de segurança foram muito rigorosos. Perdi as contas do número de vezes que tive que mostrar o meu passaporte. Voo de 8 horas até Dakar. Saída de Joanesburgo as 1825h chegada em Dakar as 0055h, oito horas de viagem com direito a perder 2 horas no fuso.
A chegada no aeroporto em Dakar foi muito estranha. O desembarque foi na pista, não existem fingers. Havia uma longa e extremamente desorganizada fila na imigração. As pessoas simplesmente não respeitavam a fila. O local era muito lúgubre, as cabines dos atendentes estavam caindo aos pedaços e os computadores pareciam não funcionar. Mas passamos...
Quando saímos do aeroporto a surpresa foi maior ainda. Parecia que tínhamos entrada em uma feira. Muita gente ali esperando pelos que chegavam oferecendo taxi, querendo carregar as malas, vendendo coisas, pedindo esmolas, enfim, uma babel. Fomos para o hotel.



Imigração no aeroporto de Dakar





Uma babel na chegada em Dakar





Chegada em Dakar muito escuro e lúgubre.

Quinto dia

O Hotel Cape Vert, como quase tudo no Senegal, é muito ruim. As fotos da internet enganam muito. No café da manhã tivemos uma amostra a falta de higiene que nos acompanharia nos dias que estivemos por lá. Moscas, muitas moscas ao ponto de não poder comer à vontade. Iniciei ali uma diet forçada.  A qualidade era horrível, uma salada de frutas enlatada e suco artificial. Enfim, eu não ficaria lá outra vez nem recomendo.
 
Resolvemos ir até uma praia que pelo mapa ficava bem pertinho.  Fomos a pé. Não era muito mais do que uns 2 quilômetros. Mas o assédio de taxistas e vendedores de tudo que se pode imaginar tornou a caminhada desconfortável.  Enfim chegamos ao lugar aonde uma rua dava acesso à praia. Descobrimos surpresos que era necessário pagar para entrar. Sem outra alternativa pagamos. Surpresa. A praia era muito suja. Havia vários bodes e cabras soltas na areia. As fezes delas também estavam lá. Havia um homem dando um banho em um bode. Acostumados com as praias limpas do sul do Brasil.  Ficamos muito chocados.
Lixo e animais soltos na praia em Dakar

Praia de Ngor muito lixo

Havia uma ilha bem em frente a essa praia, ilha de Ngor. Uns 500 metros de distância. Resolvemos ir nadando. Foi a melhor parte do passeio. Ba ilha sentamos em um pequeno restaurante para saborear as esperadas especialidades do mar se Dakar. Mais uma decepção, os pratos eram ruins e caros.
Depois saímos para uma volta pela ilha. Surpreendeu o número de pessoas, principalmente jovens, parados por lá ou perambulando sem fazer nada num dia normal de semana. Voltamos nadando outra vez.
No caminho para o hotel comprei na rua um chip para o meu telefone celular. Paguei 10.000 francos africanos. Algo como 50 reais. Instalei ali na rua mesmo e surpreendentemente para mim a internet funcionou.
Alguns de nós foram até uma loja de conveniência e uma  padaria que pareceu mais limpa e organizada.  Compramos os produtos para fazer um lanche à noite e para o café da manhã do outro dia. Foi uma boa decisão. 
Sexto dia
Nesse dia pela manhã resolvemos deixar o hotel em que estávamos e passar para um outro um pouco melhor e mais barato.
Ao fechar as contas na recepção uma surpresa. A recepcionista teimou que eu só havia pago 10 euros. Como eu não tinha pedido um recibo, lá se foram 10 euros. Ficou a lição. Se pagar alguma caução pedir um recibo.
Passamos para o outro hotel o … . (As instalações eram melhores, mas o café da manhã era o mesmo desastre higiênico).
Mais tarde fomos até a piscina aonde eram feitas as inscrições para a Travessia de natação que era o nosso principal objetivo em Dakar. Iríamos ter contato com o sistema de táxis da cidade.  Os carros são muito velhos e sujos. Literalmente caindo aos pedaços. O preço da corrida precisa ser negociado antes de entrar no carro. Eles sempre começam com o valor lá em cima.  Daí vem a negociação.  Começamos com um valor bem baixo e acabamos nos encontrando no meio. O preço não é alto, mas não se deve esperar muito. No final da corrida eles ainda vão tentar cobrar mais caro do que combinaram então é bom ter dinheiro trocado e já dar o valor certo.
Depois da piscina a idéia era ir até o Lago Rosa. Conseguimos um micro-ônibus para fazer isso. Mas quando ele chegou tivemos duas surpresas.  A primeira era que o motorista, um dos poucos idosos senegaleses que vimos por lá, não falava nada que não fosse o wolof um dialeto local do qual não sabíamos nada e a segunda era que o micro-ônibus não tinha ar condicionado o que inviabilizada o passeio. Eu suspeitava que não havíamos perdido nada muito importante, mas essa certeza nós teríamos alguns dias depois.
Sem muitas alternativas fomos almoçar em um restaurante que servia comida típica senegalesa, mas de propriedade de caboverdianos. Comemos peixe com um arroz escuro e vegetais cozidos. Foi o melhor almoço no Senegal. 
 
Sétimo dia
Nesse dia pela manhã resolvemos deixar o hotel em que estávamos e passar para um outro um pouco melhor e mais barato.
Ao fechar as contas na recepção uma surpresa. A recepcionista teimou que eu só havia pago 10 euros. Como eu não tinha pedido um recibo, lá se foram 10 euros. Ficou a lição. Se pagar alguma caução pedir um recibo.
Passamos para o outro hotel o … . (As instalações eram melhores, mas o café da manhã era o mesmo desastre higiênico).
Mais tarde fomos até a piscina aonde eram feitas as inscrições para a Travessia de natação que era o nosso principal objetivo em Dakar. Iríamos ter contato com o sistema de táxis da cidade.  Os carros são muito velhos e sujos. Literalmente caindo aos pedaços. O preço da corrida precisa ser negociado antes de entrar no carro. Eles sempre começam com o valor lá em cima.  Daí vem a negociação.  Começamos com um valor bem baixo e acabamos nos encontrando no meio. O preço não é alto, mas não se deve esperar muito. No final da corrida eles ainda vão tentar cobrar mais caro do que combinaram então é bom ter dinheiro trocado e já dar o valor certo.
Depois da piscina a ideia era ir até o Lago Rosa. Conseguimos um micro-ônibus para fazer isso. Mas quando ele chegou tivemos duas surpresas.  A primeira era que o motorista, um dos poucos idosos senegaleses que vimos por lá, não falava nada que não fosse o wolof um dialeto local do qual não sabíamos nada e a segunda era que o micro-ônibus não tinha ar condicionado o que inviabilizada o passeio. Eu suspeitava que não havíamos perdido nada muito importante, mas essa certeza nós teríamos alguns dias depois.
Sem muitas alternativas fomos almoçar em um restaurante que servia comida típica senegalesa, mas de propriedade de caboverdianos. Comemos peixe com um arroz escuro e vegetais cozidos. Foi o melhor almoço no Senegal. 
 
Oitavo dia
Dia da travessia de natação 29a Traverseé du Goreė. Uma prova tradicional que parte da Praia Voile D'or até a ilha de Goreé. A ilha é um patrimônio cultural da humanidade por ter sido um importante entreposto africano de venda de escravos para as Américas. Era lá que os próprios africanos centralizavam os inimigos ou vizinhos mais fracos que eles capturavam e os vendiam como escravos. Ainda há famílias africanas que enriqueceram muito com esse comércio e ainda vivem por lá usufruindo o que ganharam vendendo os seus irmãos.
A prova de natação contava com mais de 600 nadadores divididos em dois grupos que fariam percursos diferentes. Um de 5200 metros para a elite e outro de 4500 metros para os amadores.
Antes da largada fizemos várias fotografias e a nossa equipe de seis atletas chamava muito a atenção.
A única pessoa entre nós que não iria nadar era a minha esposa, a Vitória. Então combinamos que ela ficaria com os nossos pertences. Ela iria em um dos barcos da organização e nos encontraria na ilha.
A Travessia ocorreu sem maiores problemas. Até os 3000 metros eu nadei num ritmo forte e então cansei e tive que administrar até o final. Nadei 4600 metros em 1 hora e 46 minutos o que não foi nenhuma maravilha mas deu para terminar em primeiro lugar na minha faixa etária.

Quando eu cheguei na praia não encontrei a Vitória. Fiquei um tempo descansando e logo que pude sai procurando por ela mas não encontrei. Logo imaginei que ela ainda estava em algum barco na água. Então dentro de alguns momentos eu vi um pequeno barco chegando e vi que ela estava dentro. Fui até lá. A primeira nitícia que ela me deu foi que tinha sido roubada e levaram os nossos telefones celulares. O meu, o dela e o de um dos nossos amigos que estava com ela também. Prejuízo aproximado de uns 3000 dólares americanos.

 
 
 

 

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